domingo, agosto 29, 2010

"Ela admirou a Lua uma última vez e inspirou o ar da noite. E sorriu.
-Eu sabia que irias voltar. - disse enquanto se virava para ele.
Estava exactamente como se recordava. Alto, loiro e lindo. E aqueles olhos verdes continuavam frios e calculistas.
- Perguntava-me quanto tempo demorarias a perceber que viver sem o teu amor afinal não foi capaz de me matar.
Ele passou a mão pelo cabelo, gesto antigo e ela viu o brilho da lâmina escondida na manga do casaco.
- Demoraste mais do que eu pensava, mas ainda bem. Assim tive tempo para me preparar.
- Não pensei termos que enfrentar esta situação, mas devia tê-la previsto.
- Claro que sim. Mas tu eras presunçoso demais e achavas que eu ia morrer assim que me deixasses. Adivinha? Continuo viva e melhor que nunca. Não há mais nada aqui para ti, por isso podes ir embora.
- Ainda tenho o teu ódio. - Ele movia-se lentamente, em circulo, estudando o melhor ângulo. Ela permanecia parada como uma estátua.
- Não, já nem o meu ódio mereces. Não há nada para ti, nem sequer a indiferença. Essa lição foste tu que me ensinaste. As outras tive que aprender à minha custa.
Ele aproximou-se. Ela conseguia cheirá-lo. Aquele cheiro doce, totalmente único e caracteristico dele. Em tempos, aquele cheiro teria bastado para ela cair de joelhos e pedir o seu amor novamente. Mas isso tinha acabado. Ambos sabiam porque estavam ali. Um tinha que morrer.
Quando ele estava tão próximo que ela sentia o seu hálito, ele olhou-a como antigamente. Ela sorriu.
- Eu pensei mesmo que ia morrer sem ti. Mas felizmente, nessa altura era uma cobarde. - ela viu o brilho da Lua na faca dele, cada vez mais próximo da sua garganta e sorriu ainda mais abertamente. - Hoje já não sou.

E apunhalou-o no coração.


Deixou-lhe a faca enterrada no peito, dele não queria nem esse recordação.
Passou as mãos pelo cabelo e soltou uma gargalhada, que ecoou na noite escura.
Era livre. Finalmente livre. Pois ela soubera desde o ínicio, que para aquele amor acabar, um deles teria que morrer.
Caminhou pela noite dentro, e nunca mais ninguém a viu, mas às vezes em noites de Lua cheia, à quem ouça a sua gargalhada."


*Ari

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